Desabafo de um palmeirense

Há exatos oito anos atrás, deitado e de olhos fixos na televisão, tive uma das melhores experiências da minha vida. Vi, depois de acompanhar todo o campeonato, conhecer o perfil de todos os jogadores, admirar o técnico e ter um ídolo, o Palmeiras ser campeão da Libertadores da América. Gritei, corri, pulei, ganhei uma camisa nova do time. Não me contive. Pela primeira vez me deliciei no céu do futebol.

Tenho lembranças claras da minha reação ao ver meu time campeão brasileiro em 93 e 94. Ou campeão paulista em 96. Campeão da Copa do Brasil em 98. Mas a vitória na libertadores foi saborosa. Foi com raça e sangue. Me deu orgulho de ser palmeirense. Aliás, cresci com orgulho do meu time. A minha 'segunda infância' e consolidação do meu gosto por futebol coincidiu exatamente com uma das melhores épocas que o meu time viveu. Cresci acostumado com um Palmeiras campeão. Com um Palmeiras vencedor. Com um Palmeiras favorito.

A entrada da minha adolescência, as "novas' experiências, a vontade de ser grande e o "espírito rocker" fizeram com que meu interesse por futebol minguasse. Acabei trocando a bola pelas rodinhas e por muito tempo consumi e assisti tudo o que era relacionado ao skate. Mesmo com esse afastamento, não deixei o meu time nos jogos mais importantes. Lembro do Palmeiras caindo em 2002. Lembro do então melhor goleiro do mundo, permanecendo no seu time, mesmo ele na segunda divisão. Lembra da desclassificação nas semi-finais do paulistão em 2003. E lembro do show na série B. Palmeiras campeão da série B com duas rodadas de antecedência e ainda levando o Botafogo com ele.

Em 2005, um pouco mais maduro, voltei a apreciar o futebol. E o meu fanatismo pelo meu time cresceu ainda mais. Sabia de cor e salteado a escalação do Palmeiras. O técnico. O melhor jogador. O pior. O presidente. A comissão técnica. Os diretores de futebol. O Palmeiras voltou a ocupar com tudo a minha vida. Acompanhei a desclassificação na libertadores. A perda do paulistão. A conquista suada de uma vaguinha na libertadores do ano seguinte. As polêmicas. Desejei matar o Mustafá Contursi por todas as mancadas que ele cometeu a frente do meu time. Voltei com todas as forças.

Tive esperança de que 2006 seria o ano verde. E me decepcionei. Vi os tropeços no final do paulistão que tiraram o meu time da liderança e do título. Vi a goleada do Figueirense que custou a cabeça do técnico Émerson Leão. Vi o meu poderoso Palmeiras sucumbir diante do São Paulo nas oitavas-de-final da libertadores. E vi as lambanças da diretoria. Técnico sem experiência. Técnico que fazia um bom trabalho sendo demitido. E time que, por um fio de sorte, não caiu de novo para a Série B. E vi Salvador Hugo Palaia desembarcando em São Paulo com um chileno de cabelo grande, meio tímido e que diziam ser mago.

O ano de 2007 entrou com uma ressaca tremenda. Entrou para ser o ano da recuperação. Técnico novo e desconhecido. Elenco reformulado, prometendo títulos. E um jogo Palmeiras x Corinthians para lavar a alma. O tal do mago mostrou que realmente sabia fazer peripécias com a bola e encabeçou uma deliciosa vitória contra o nosso maior rival. Não deu outra, virou ídolo. Mas, mesmo assim, os tropeços doeram no coração. Eliminado antes de chegar, sequer, as finais do Paulistão. Eliminado da Copa do Brasil com um pênalti defendido pelo Diego Cavallieri que o bandeirinha, equivocadamente, mandara voltar. Doeu sentir aquilo. Doeu ver que talvez por mais um ano não seríamos de novo aquele time vencedor. Doeu sentir a frustração de ainda não termos um grande time. Veio o brasileirão e a promessa de ficarmos entre os quatro. Vi o mago crescer cada vez mais, fazer gols, dar passes geniais. Ser eleito o melhor meia esquerda do brasileirão. Mas doeu a derrota no último jogo para o Atlético Mineiro. Doeu ver que os nossos sonhos por mais uma vez não iriam se cumprir.

As promessas marcaram o início de 2008. Luxemburgo, vários bons jogadores. Valdivia em excelente estado. A volta do maior ídolo Palmeirense, talvez maior até que Ademir da Guia, o grande Marcos. Esperanças brotavam no meu coração verde e branco. Mas os tropeços no início doeram. Era difícil encarar os amigos torcedores de outro time jogando na cara o fato de estarmos a quase uma década sem ganhar nada. Era difícil explicar para eles os tropeços do meu time, mesmo com aqueles jogadores. O time então começou a ganhar. A jogar bonito. A ser um esboço do Palmeiras que vi. E a minha satisfação da infância foi aos poucos voltando ao ver aquele time jogar. Ao ver aquele esquadrão da frente marcar gols. Ao ver a defesa trabalhando bem. O Palmeiras começou a voltar a ser o time vencedor do final da década passada. Mas ainda tinha dúvidas. Tantos tropeços. Tantas frustrações. Será que dava?

Hoje sentado em frente a televisão. Olhos fixos. Suado. No corpo a camisa do Palmeiras 2007. Nas mãos, a camisa do esquadrão alvi-verde de 94. E emoção. Frio na barriga. Jogo começa. Sensações de montanha russa a cada descida da Ponte Preta. E emoção. Emoção. Emoção. Sozinho em frente a TV, torcendo, rezando. E o Palmeiras 1, 2...3...4....5. Emoção. Gritos a cada gol. Meu coração em lágrimas. Hoje senti o resquício do meu time campeão. Tive de novo um ídolo. Lavei a alma. E os meus olhos quase expressaram isso tudo em lágrimas. Só não chorei porque segurei a emoção. E agora eu grito. É verdade, Palmeiras campeão Paulista.

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