O Sistema

O Sistema é o senhor do mundo moderno. Nada na nossa vida funciona sem o Sistema. Ele é quem manda na maioria das situações que o mundo atual nos impõe. Se estivermos no médico e queremos usar o velho e bom cartão do plano de saúde, quem autoriza a consulta (ou não) é o Sistema. Se ele estiver feliz, dá tudo certo, a atendente passa o cartão na máquina, o Sistema gentilmente autoriza e vamos para casa sem maiores problemas. Ele é o responsável por nosso dinheiro, por nossas contas e muitas vezes pela nossa felicidade.

Como um bom Deus, o Sistema nem sempre acorda gentil. Ele também tem lá os seus dias chuvosos, que o faz tropeçar e cair, para a tristeza e desespero de nós súditos, ou então recheados de raiva dos seus seguidores, o que o faz premeditadamente cair e nos castigar com a sua ausência. E quando ele cai é um Deus nos acuda. O velho e bom cartão do plano de saúde não passa e ficamos com aquela cara de constrangido em meio ao olhar de uma atendente que, a toda custa, tenta inutilmente passar o cartão com a vã esperança do senhor Sistema ter recuperado o seu humor e a sua piedade para conosco e ter voltado.

Ninguém conhece os desígnios do Sistema para poder afirmar com certeza a que horas ele voltará. A espera e a demora geram, muitas vezes, um sentimento de ansiedade, frustração e, principalmente, constragimento quando temos a certeza que na nossa carteira não há um tostão furado. Sobretudo quando estamos no meio de uma compra esperadíssima, sabemos que finalmente naquele mês temos crédito para efetuá-la, mas o Sistema insiste em permanecer fora do ar, para o desespero da nossa carteira vazia e da atendente com o seu sorriso constrangido.

E isso quando estamos com sorte. Pior é no motel, com aquela loira de pernas grossas e belos olhos azuis, maravilhosa, que gastamos toda a nossa sorte e boa parte das nossas economias para levá-la lá e efetuar um ato de cópula de absoluto prazer e, ao final, passarmos o cartão de crédito para pagar o quarto e ouvir da atendente um "o Sistema está fora do ar". É uma sensação brochante, que nos deixa paralisado, sem saber como reagir e nem como falar para a mulher que não tenho mais nenhum dinheiro, que gastei tudo com aquela droga daquele champagne francês e com o jantar naquele restaurante de rico. A vontade que nos dá é se afogar na banheira, ou aproveitar o sono da nossa princesa para, cautelosamente, tirar R$ 50 da carteira e evitar maiores frustrações.

A notícia da queda do Sistema nos afeta de tal forma que, ao estarmos na fila do caixa, quando anunciam que o Sistema caiu, o desespero e a tristeza são absolutos. Pessoas choram desesperadas, os mais fracos desmaiam, as velhinhas rezam pela rápida melhoria Dele, ouvimos certa balbúrdia e, se o castigo demorar muito, vira até notícia no jornal. "Hoje O Sistema passou 24 horas fora do ar", "Pessoas se desesperam com a queda do Sistema" bradam as chamadas dos jornais. Todo mundo fica aflito, sem saber a que horas o Sistema voltará, ou se ele voltará algum dia para podermos pagar as nossas contas e levar a nossa vida capitalista feliz.

Mas quando menos se espera sua enorme bondade lhe faz voltar e nos premiar com a sua presença e então o atendente do banco pode dizer que o Sistema voltou e que não estamos sós. A fila explode em delírio. Abrem-se vinhos em nome da melhoria do Sistema, garotos gritam emocionados, velhinhas agradecem a Deus pela recuperação Dele e todo mundo consegue, feliz, pagar as suas contas, o motel, a consulta no hospital, ou aquele objeto de desejo e voltamos finalmente ao nosso capitalismo diário. Porque o Sistema é nosso pastor e nada nos faltará.

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