O Batman para crianças


Não é o melhor Batman. O melhor Batman continua sendo o Begins. Isso não faz com que o Cavaleiro das Trevas seja um filme ruim. Não é. Mas também passa longe do que foi - principalmente em termos de ousadia do roteiro - o primeiro filme da dupla Chris Nolan e Christian Bale como diretor e personagem principal. Para ser sincero, o novo Batman não passa de um excelente filme para crianças.

O longa dura duas horas e durante esse tempo vemos um personagem, que deveria ser coadjuvante, ganhar ares de principal relegando ao nosso pobre homem morcego o pífio status de segundo plano. O Coringa rouba todo glamour do Batman, tanto na sua caracterização, quanto na interpretação. A interpretação do falecido Heath Ledger ao Coringa é fenomenal. Toda a crítica cinematográfica mundial ficou embasbacada com o talento do Caubói de Brokeback Mountain e já estão até pedindo que a academia conceda um Oscar póstumo ao ator. O que, além de merecido, muito provavelmente vai acontecer. O único problema disso tudo para O Cavaleiro das Trevas é que o nome do filme não é Coringa, mas sim Batman.

É difícil dizer se a escolha em dar ênfase ao papel do Coringa aconteceu antes ou depois da morte de Ledger. O fato é que esse é a maior fraqueza do filme. Quem assistiu Batman O Cavaleiro das Trevas (e não se cegou com a atuação de Heath Ledger) ficou esperando aquele herói sombrio e humano, aquele Christian Bale arrasador que conseguia nos fazer acreditar que o homem morcego poderia ser real. E tudo o que viu foi um morceguinho manso. A grande força do primeiro filme de Christopher Nolan era a atuação de Bale como Batman e essa caracterização mais próxima da realidade, bem diferente dos outros filmes de heróis que continuaram batendo em infantilidades como super poderes e etc... No Cavaleiro das Trevas vemos um Batman que, na própria roteirização do filme, é um mané, um mero coadjuvante frente a um Coringa sensacional. Não foi só a atuação de Bale que foi fraca, foi o roteiro que não deixou o homem morcego crescer e ser aquele personagem que encantou milhares de espectadores há três anos.

Outro buraco em que o filme cai é no maniqueísmo. Ta certo que histórias em quadrinhos são, em essência, produtos da divisão entre o bem e o mal. Mas em Cavaleiro das Trevas - repare caro leitor que o título poderia dar brecha a idéias interessantes - isso é exagerado. O Batman é fraco. Tudo bem ele ser incorruptível, mas por que não deu uma sova de verdade no Coringa quando ambos estavam juntos na cela? Ou então, porque não se revoltou com Harvey Dent que ele salvou e por uma frescura virou vilão? O que me parece é que a produção tentou evitar cenas mais fortes e pesadas e a dose de inovação presentes no primeiro longa; tudo para poder disponibilizar o filme para crianças e se tornar um blockbuster de consumo fácil. Se fosse para deixá-lo tão infantil, seria melhor que nem fizessem a continuação.

O filme é uma decepção para quem achou que iria ver o Batman sombrio do longa anterior. Mesmo assim, vale o ingresso. Os saudosistas que me perdoem, mas Heath Ledger consegue ser um Coringa melhor que foi o grande Jack Nicholson. Fora isso, a produção ficou legal, os efeitos especiais também. Se o leitor não tiver o que fazer, é uma boa opção para passar o tempo, ou então para levar o filho (ou irmão mais novo) ao cinema. Não mais do que isso. A verdade é que Batman O Cavaleiro das Trevas facilmente seria esquecido e provavelmente seria mais um dos milhares de blockbusters medíocres lançados todos os anos, isso se Ledger não tivesse feito a atuação da sua vida.

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