Retrospectiva

Muitos desistiram de esperar. Outros tantos pensaram que não ia sair. E uns ainda mantinham um leve fio de esperança que este dia chegasse. E chegou.

Hoje, quinta-feira, 10 de janeiro, com mais de 10 dias de atraso sairá a retrospectiva 2007 do blogdorosk. Motivos variados como férias, verão e sobretudo a presença dos meus queridos tios por aqui dificultou um pouco (?) a atualização em ritmo normal deste blog, incluindo estes posts clichês de fim de ano. Atrasou mas não cancelou.

Vamos lá.

Primeiro, antes de começar quero dizer que pensei em fazer uma lista dos 5 melhores de categorias como filmes, música, literatura e shows... que eu vi/li/ouvi em 2007, mas iria ser uma coisa complicada e eu, certamente, cometeria injustiças. O motivo é simples, vi muito filme, li muito livro vi muito, mas muito shows mesmo no ano passado. Só no quesito bandas que eu teria dificuldade em listar, principalmente as daqui de Natal, já que pouca coisa nova e boa apareceu. Então decidi fazer uma breve e singela retrospectiva mesmo que me deu trabalho e a sensação de que, ainda, faltou citar muita coisa.

Shows

Em 2007 tive o prazer de ver shows incríveis como Hello Saferide, Cibelle e Nouvelle Vague no Coquetel Molotov, ou Phoenix no Nokia Trends, ou então Móveis Coloniais de Acaju no MADA. Dizer qual deles foi o melhor, sem dúvidas e sem ficar com uma pontinha de injustiça, é quase impossível. Mas, por um fio de cabelo de distância, destaco o show do Móveis. E esse destaque vem pela surpresa. Nunca esperava uma ciranda imensa no meio da chuva, nem o cover de Portishead e muito menos a energia que foi aquilo tudo, com a chuva para abençoar os dançantes. Mas isso não desmerece os outros shows, Cibelle e Hello Saferide me deixaram arrepiado e Nouvelle Vague superou com folga todas as minhas expectativas. Das bandas natalenses, o meu destaque vai para Bonnies. Os caras sabem fazer show quando querem. E o show deles que rolou numa festinha la na universidade foi excepcional, com direito a covers muito bem tocados de Chuck Berry e Little Richards.

Sobre os eventos de música em si dá pra falar da merda do ano. A merda do ano em evento no cenário rocker natalense foi, sem dúvida nenhuma, a escolha via internet das bandas que iriam tocar no festival Rock na Rua. A idéia foi sensacional, afinal era a democracia, o público do festival iria escolher as bandas que queria ouvir no evento. Ótimo para o evento, ótimo para o público e ótimo para as bandas. E seria ótimo mesmo se as bandas concorrentes, sobretudo as menores, não ficassem mudando o IP e ficassem votando nelas mesmas o dia inteiro e se a produção não tivesse escorregado na divulgação dos resultados parciais. E a merda, que no inicio parecia pequena, cresceu e virou um baita tolete na noite do evento. O que foi triste, porque a estrutura do evento estava realmente muito boa. Resultado: bandas despreparadas que não tinham público nenhum e que mal sabiam afinar o instrumento se apresentaram na bela estrutura montada na Tavares Lira, Ribeira, com direito a integrante de uma dessas bandas corruptas, admitir diante do público que estava ali porque fraudou a votação. E o tamanho do tolete não parou por aí, a produção do evento ainda contou com a má sorte de ocorrerem vários imprevistos, inclusive com a STTU (órgão municipal de trânsito) que causou um atraso de 3 horas do evento, afastando ainda mais o minguado público. E o Rock na Rua que tinha uma idéia tão legal, que teve duas edições anteriores muito boas amargou um fracasso desmerecido. Espero muito que continuem no ano que vem, mas sem votação pela internet.


Bandas

Falar sobre as bandas de Natal em 2007 é definitivamente não ter muito o que falar. Foi tudo muito mais do mesmo e as boas bandas da cidade não lançaram nada de novo em 2007. E as que lançaram material novo, não convenceram. O revolver, por exemplo, que eu citei como revelação em 2006 lançou uns singles ruinzinhos com letras dignas de um Fresno ou um NX Zero. O Dusouto, pra mim a melhor banda de 2006 quase acabou no ano passado por conta de problemas internos. Graças a Jah tudo não passou de um susto e a banda voltou.

Mas conheci boas coisas e algumas coisas novas apareceram também na terra do sol. Projeto Retrovisor e Simona Talma foram as minhas ótimas descobertas do ano passado. Na parte de revelações, dá pra citar a banda importada diretamente de michgan, o Barbiekill que, como muito bem frisou o jornalista Hugo Morais em seu blog, sai da rotinazinha hardcore/nu metal daqui de Natal e coloca o frango pra ferver com um eletro-rock dançante e bem humorado. Um pessoal que tem muito futuro tanto aqui na cidade quanto no cenário nacional que vive ainda o êxtase do CSS e do Bonde do Rolê, fortes influências da banda natalense.

Este ano me dediquei a ouvir os clássicos do rock e da MPB, desconhecidos por mim por causa de uma série de motivos, dentre eles a má influência musical que tive dentro de casa. Bob Dylan, The Doors, Velvet Underground foram as minhas belas descobertas do rock e na MPB Jorge Ben. Pretendo conhecer ainda mais os velhos e bons artistas.

No cenário nacional de bandas novas, o meu maior destaque vai para o Supercordas. Um pop-psicodélico com belas letras foi o campeão no quesito CD-que-vive-tocando-no-meu-carro. Mais do que recomendado com o certificado rosk de qualidade. No quesito MPB meu trófeu fica dividido entre a paulistana Cibelle e a potiguar Roberta Sá. Como eu sou um natalino de coração, dou a vantagem para a artista daqui que conseguiu fazer uma versão para Casa Pré Fabricada que faz chorar até o mais duro dos corações. Pena, mas pena mesmo que ela não é muito valorizada por aqui.

Cinema

No quesito cinema o ano que passou foi marcado pelos filmes-que-viraram-piadinhas. O primeiro foi 300 de Esparta, quem não cansou de ver piadianhas com os seus personagens? O nome Esparta ressoou pela internet, com direito a gifs do Leônidas I (Gerald Butler) gritando "This Is Esparta" ou com vídeos engraçados sobre isso. Blogs de comédia usaram e abusaram dele. O outro filme foi o famigerado Tropa de Elite. O longa, sucesso de vendas no comércio pirata, caiu nos braços da rede e seu personagem principal, o Capitão Nascimento quase virou herói nacional e desbancou, no ranking das piadianhas, personagens lendários como o (agora quase) invencível Chuck Norris. Termos usados no filme como fanfarrão, zero dois passaram a ser usados constantemente e virarem piadas. A febre foi tamanha que fizeram até uns remakes de cenas do filme utilizando legos, uma versão tosca para falar mal do botafogo e outras tantas que povoaram o imaginário do nosso povo. E tem as músicas também do filme que tocaram e ainda tocam incansavelmente.

Piadas a parte, Tropa de Elite é um excelente filme, tanto tecnicamente, com boas atuações, com uma narrativa forte, uma direção competente e escolhas mais do que acertadas, quanto do ponto de vista sociológico por suscitar discussões interessantes e muitos boas. Mas não foi o escolhido para a pré seleção do Oscar. O que 'faturou' a pré-seleção foi o longa O Ano Em Que Meus Pais Sairam de Férias do Cao Hamburguer. Muitos discordaram e prefeririam ver o filme de José Padilha como representante brasileiro na briga pela estatueta dourada. Apesar de ter gostado muito de Tropa de Elite, ainda preferi O Ano, é um filme sensível e com uma direção de arte impecável, muito bom mesmo. Mas se fosse eu o responsável pela pré-seleção do Oscar, colocaria, sem sombra de dúvidas, o excepcional Não Por Acaso do diretor estreante Philippe Barcinski. Um dos melhores filmes brasileiros que vi. Pena, mas pena mesmo que foi esquecido pelo circuito comercial e não estreou em muitas cidades, como Natal. É um filme que vale a pena ser comprado e ocupar uma estante de DVDs ao lado de Kubricks, Coppolas e Bertoluccis.

Literatura

O meu destaque vai Pequenas Catástrofes do genial Pablo Capistrano. Foi um livro que me tirou o ar. Narrativa forte, inteligente, muito bem esquematizada com um final que te deixa semanas pensando. É altamente recomendável. Minha tristeza deste ano é que não li os novos autores brasileiros ainda, Marcelino Freire, João Paulo Cuenca entro outros estão na minha fila de espera de leitura. O problema é que ela é longa. Pretendo ler mais uns dois livros do Capote, algumas obras do Joseph Mitchel, Gay Talease e essa cambada inteira do new journalism americano e do brasileiro também. Além de alguns clássicos.

Mas o ano que passou foi muito produtivo. Tive contato e me apaixonei pela literatura beat. Kerouac não saiu da minha estante e ainda teve a companhia do lírico-sujo Bukowski. Algo bem diferente do meu realismo fantástico cotidiano. Clarice Lispector também me pegou de jeito e me hipnotizou com o seu Perto do Coração Selvagem. É incrível a habilidade que ela tem de nos fazer apaixonar-se por seus personagens. Ainda na categoria bons-clássicos, cito o sensacional Vidas Secas do Graciliano Ramos, um dos livros mais bonitos que li. Outro destaque meu nesse quesito vai para a biografia de Chatô. Obrigatória para todo mundo que quer seguir a carreira de jornalista. É demais, muito boa mesmo.

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