A Praia

Andava no calçadão de Ponta Negra, todo assim, desarrumado. Bermudas largas, camiseta e havainas. Ele andava olhando os carros e observando as pessoas que caminhavam, esportivas, pelo calçadão, mesmo sendo por volta das 19 horas. As pessoas usavam roupas esportivas e caminhavam com aquele jeito esportivo, inalando todo o dióxido de carbono dos carros que passavam por ali, àquela hora, num trânsito que era na verdade um emaranhado de carros buzinando e soltando toneladas de dióxido de carbono que as pessoas esportivas que caminhavam ali estavam inalando.

Ele queria simplesmente dar uma passadinha na praia, a pé, olhar a lua, sentir a areia e ver todo aquele movimento da praia de Ponta Negra a noite, com aquelas luzes amarelas e as pessoas saindo do mar e conversando nos banquinhos. Ele todo largado andava rindo por dentro, ria de si mesmo e das pessoas que caminhavam inalando dióxido de carbono e ria também dos carros embaralhados e buzinando. Ele achava graça daquilo tudo. E ria dele mesmo, ali, todo largado, indo para a praia aproveitar um pouco daquela boa sensação que as praias sempre despertam.

Ele gostava daquela sensação da praia a noite. Das luzes amarelas cintilantes, das pessoas que saiam e conversavam entre elas mesmas, das mulheres, algumas, muito bonitas, que passavam por ali naquele horário e de sentir os pés descalços na areia e na água do mar. Gostava também de olhar aquele céu estrelado deitado na areia e de pensar sentindo o vento tão forte e tão saboroso daquele local. Ele adorava isso e queria aproveitar essa sensação, já que fazia tempo que não ia a praia.

Parou próximo da descida da praia e imaginou o quanto um vinho tinto barato e uma boa companhia seriam perfeitos para aquele momento. Foi num mercadinho próximo, do outro lado da rua, e comprou o seu vinho tinto barato. O primeiro problema estava resolvido, só faltava o segundo e, mais grave, a companhia.

Vasculhou a lista telefônica do celular e nada. Ninguém que valeria a pena chamar para aquela noite. Pensou então que a sua necessidade crônica de companhias era o que estragava a sua vida e decidiu, então, descer para praia e acabar sozinho com aquele vinho e aproveitar sozinho aquele boa sensação da praia.

Escolheu um gramado que ficava a poucos metros da praia e próximo da areia. Era conhecido como Paraíso, por causa dos coqueiros e do extenso gramado que havia ali. Gramado que abarcara bebedeiras de muita gente que freqüentava o local, inclusive as dele. Era uma terça-feira e por isso o Paraíso estava vazio. Escolheu um local que dava para ver bem o mar e as estrelas e abriu o seu vinho. Tomou o seu vinho arrependendo-se de não ter levado um caderninho para anotar os versos que saltaram da sua boca. Levantou, sentou-se, ainda com o vinho pela metade, na areia e ficou lá a sentir o mar e o vento e pensar na vida e nos seus amores.

Levantou-se, cambaleante, molhou os pés no mar e foi seguindo para a sua casa quando teve a visão. Não tinha certeza se aquilo ali era realidade ou era algo criado pela sua mente embriagada. Foi difícil de acreditar. Era linda. Andava sozinha com seus cabelos negros a tocarem a sua nuca, com aquele andar, com aquele olhar que lhe tirava o fôlego. Ela era um pouco mais baixa que ele e tinha um corpo bonito, na medida, nem muito magro, nem muito gordo. Ela tinha olhos pretos, uma pele moreno-claro e um formato de rosto equilibrado e muito belo, lábios carnudos avermelhados. E andava também com uma garrafa de vinho tinto barato cheio, de baixo do braço. Achou que o destino estava aprontando com ele, não é possível tamanha coincidência. Por um momento achou que ela olhou para ele, como se o convidasse para tomar daquele vinho e sentir daqueles lábios. Resolveu ceder. Bêbado perguntou se andava acompanhada.

Sóbria, ela respondeu.

- Meu namorado logo logo vai chegar seu tarado!

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