Juventude Transviada

O mundo ficou em choque com o que aconteceu essa semana. Estarreceu-se perante os cadáveres. Um estudante coreano de apenas 23 anos assassinou, friamente, 32 colegas de uma das mais renomadas universidades americanas e depois se suicidou com um tiro no rosto. A tragédia abalou as estruturas do sistema de ensino do país mais poderoso do mundo e assusta pelo modo que ocorreu e pelas características do assassino.

Não faltará dedo para apontar prováveis culpados. A imprensa norte-americana cuidará de levantar hipóteses que poderiam ter causado esse comportamento agressivo no jovem coreano. Acusarão desde os videogames, até eventuais falhas na sua criação. Mas esquecerão do mais importante. A cultura da competição excessiva, do lucro à qualquer custo, que deixa para trás até mesmo o respeito pela natureza humana.

Somos competitivos. Compete-se, desde a infância pela preferência dos pais. No colégio pelas melhores (ou piores) notas. No esporte, pelo melhor desempenho esportivo. Nas relações sociais pela atração do sexo oposto. E, como é natural numa competição, sempre haverá um perdedor. Aquele que não tem a competência de, nem mesmo, conseguir a preferência dos próprios pais e são jogados de lado pela sociedade. Tratados como pobres coitados. Humilhados em seu próprio ambiente.

Isso já seria uma causa notoriamente ruim para a psiquê de uma criança. Combinar isso com motivos que levem ao preconceito como o fato dela ser estrangeira, ter outra religião ou ser de uma cor diferente pode ser uma combinação com resultados devastadores na formação de um indivíduo. Pior que agressões a sua própria pessoa, está a agressão pela a sua origem, pela sua raiz cultural, pelo seu próprio eu, impossível de mudar. Os Estados Unidos é um país cruel com os imigrantes e com os &39;perdedores&39;. Estes, são levados apenas a uma humilhante cadeira na sala dos medíocres.

Mas o coreano não era um perdedor, ele estudava em uma das malhores universidades do país, argumentaria alguns. Esquecem, porém, que por ser um dos melhores centros de ensino do mundo, habita-se nela também os mais competitivos e inteligentes estudantes e que a cultura capitalista, tão entranhada naquilo ali, preza por demasia pela competição. Ser um aluno mediano numa universidades dessas é motivo de vergonha. Ser mediano e estrangeiro é de humilhação. Não estou a defender o coreano, ele teria outras formas mais racionais de extrapolar os seus sentimentos. Estou alertando para a criação dos nossos jovens, pelos valores que nós os impomos diariamente. Será mesmo que eles devem ser tão competitivos? Que alternativas podemos ter para evitar esse excesso de competição e de preconceito entre eles?

A proibição do porte de armas (da qual sou a favor) é um paliativo. Não evitará que se forme mais pessoas atormentadas como esse jovem. Deve-se criar um programa pedagógico que incentive o indivíduo, desde a sua infância, a conviver com as diferenças sociais, econômicas e culturais das pessoas. Deve-se, evitar a competitividade excessiva entre os jovens e incentivar a solidariedade e o trabalho em grupo. E não exigir deles sempre que exista sempre o melhor, o mais bonito, o mais inteligente. Mas mostrá-los que cada um tem a sua jóia, o seu valor e que isso é expressado de formas diferentes em cada pessoa.

Essa tragédia foi uma alerta para a sociedade quanto os seus valores éticos. Um grito desesperado de estudantes que sofrem com os valores desumanos transmitidos por aí. Não devemos olhar esse acontecimento como um delírio de mais um jovem maluco, uma ato isolado, mas sim como um aviso sobre o tipo de jovem que a nossa cultura está formando. Se não fizermos nada, infelizmente, teremos um futuro negro. Onde o Cho se tornará, como ele mesmo diz, um Jesus Cristo.

Ps. Texto escrito originalmente para www.gostodeler.com.br com o título original de "Juventude de Sangue".

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